VIAJAR É PRECISO

VIAJAR É PRECISO

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio pra desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores ou doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver."

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9 de setembro de 2014

Mochilão Lago Titicaca!




O Lago Titicaca banha o Perú e a Bolívia. Decidimos visitar uma cidade no Peru (Puno) e duas na Bolívia (Copacabana e Isla del Sol). 


Copacabana é uma cidade boliviana que fica na na divisa entre a Bolivia e o Peru. Saímos de Cusco, de ônibus, em direção à Copacabana. Compramos a passagem na rodoviária, e o ônibus era muito bom, um dos melhores que já andamos. Saímos de Cusco às 10 da noite e chegaríamos em Copacabana de manhã cedo, mas nesse meio tempo houve algumas mudanças... a empresa de ônibus era muito confortável, só não nos informou um pequeno detalhe: o ônibus, na verdade, ía até La Paz, e não Copacabana. Como eles não tinham muitas pessoas até Copacabana, decidiram que nos deixariam na beira da estrada há cerca de 3 Km da fronteira. Tivemos que descer de manhã cedo no meio da estrada e pegar uma Van que nos deixaria em Copacabana. Um descampado, numa estrada sem ninguém, só nós e a Van. Entramos na Van e uma senhora muito simpática (com um dente de ouro...) nos disse que tínhamos que esperar até a Van encher para sairmos pois iria esperar outro ônibus chegar... mas que se pagássemos mais 10 soles cada um, a Van sairia naquele momento. Eu questionei se eles iriam deixar as pessoas na estrada, esperando, ela se calou e viu que não tínhamos caído na conversa.. uns minutos depois saímos. Mas não nos deixaram em Copacabana e sim na fronteira com a Bolivia, há 2 Km de Copacabana. Fizemos a fronteira a pé, perdidos e sem saber o que fazer. Do outro lado, tivemos que pagar mais alguns bolivianos para chegarmos até Copacabana, com outra Van que fazia o trecho. Conversando com um policial da fronteira, ele disse que não devíamos ter descido e sim ter chamado a polícia... mas não tínhamos celular e não tivemos escolha. 
Enfim, Copacabana... a cidade que deu nome à famosa praia carioca é uma pequena cidade na beira do Titicaca. A orla é muito bonita, com alguns restaurantes e barzinhos. Neste momento, ligue o filtro BOLIVIA, pois a orla é, na verdade, uma rua de terra com bares na frente.. mas a paisagem ajuda a tornar tudo mais bonito. Há muitos turistas e algumas opções de alimentação. A melhor que encontramos foi o restaurante do Hotel Estelar. O prato típico do Titicaca é a truta, peixe de água doce e gelada, de altitude, de sabor sem igual. Há muitas opções, como a truta com alho, ao limão, defumada, apimentada... E o melhor, muito barato, em torno de 15 reais o prato super bem servido! 
Não vá no bar que fica logo ao lado, Flor de mi tierra, com um terraço cheio de cadeiras, grama, enfeites... é bonito, mas os caras vão te roubar em tudo! 
A avenida 6 de agosto é bem movimentada e vale o passeio. No fim da tarde, fomos ver o pôr do sol na subida que vai até o cemitério. Não chega até lá, na verdade tem um platô que serve para assistir, prepare-se pois a subida é intensa.  Mas o melhor da cidade são os barcos que fazem o passeio pelo Titicaca até a Isla del Sol, a segunda cidade boliviana que visitamos. 
 


A Isla del Sol é uma ilha no meio do Titicaca. A tradição inca atribuía à esta ilha o surgimento da sua Civilização. Há muitas lendas e muitas histórias que cercam o lugar e dão a ele um ar místico. O que de fato há é uma belíssima ilha de rochas ocre no meio de um lago de cor azul celeste. A ilha basicamente é dividida em Porto Sul e Porto Norte. No sul, ficam as pousadas e restaurantes. No norte, ficam os pontos turísticos incas, como o Portal do Sol. Há pousadas caseiras no norte também, o que pode ser uma boa opção. 
Nos hospedamos no sul, em uma pousada que ficava no topo da ilha. A caminhada até lá foi de uma hora, mas valeu a pena pelo visual do lugar e o preço, bem mais barato que os hotéis que ficam no pé da montanha. Recomendo a hospedagem, Hostal del Sol. É simples, mas foi barato. As melhores opções de jantar também ficam no topo da montanha, recomendo o restaurante Inti Jalanta, com preços bons e boas opções de trutas e omeletes, além do Pisco Sour boliviano. 
A ilha é um passeio para se caminhar e apreciar a paisagem, não há grandes atrações e também não há lojas ou supermercados. Para ir ao norte da ilha, pode se pegar o barco que vem de Copacabana ou encarar a trilha pelo alto da montanha, são duas horas de caminhada. 




Puno fica no lago Titicaca, do lado peruano. É uma cidade bem maior do que as outras duas, tem uma praça central muito bonita, boa estrutura hoteleira e passeios de barco para visitar as ilhas flutuantes. No dia da visita havia uma festa da padroeira da cidade com uma fogueira e muitas danças. O ponto alto do passeio é a visita às Ilhas flutuantes de Uros, Taquile e Amantaní, que leva o dia todo. 

Ilha de Uros: a visita à ilha é bem agradável e pode-se fazer um passeio de barco feito de totora, uma palha local, parecida com o nosso Junco. A ilha toda é feita de totora. O barco que vai até as ilhas é lento.
 


Depois da visita à Uros, fomos à ILha de Taquile, um maciço rochoso no meio do lago e com uma comunidade bem organizada e muito interessante. Fotos lindas e um almoço muito agradável. 
 


O retorno à Cusco é uma outra viagem, e achamos uma boa opção reservar um ônibus turístico da Wonder Peru. Esse passeio turístico pode ser comprado em qualquer agência, achamos uma na rodoviária. O passeio leva 10 horas e visita o Museu lítico de Pucara, o complexo arqueológico de Kalassaya, Raqchi (fantástico!), A igreja de Andahuaylillas, fora a belíssima vista do altiplano com o nevado Apu Chimboya.  






2 de setembro de 2014

Mochilão em Machu Picchu!

Para ir à Machu Picchu você pega o trem que sai de Cusco até Águas Calientes, e depois sobe de ônibus até a cidade.  Esse é o jeito tradicional. O nosso, foi caminhar por 4 dias na Trilha Inca, em meio à Cordilheira dos Andes, partindo de 27500 metros, subindo até 4200 e depois descendo a 2500 metros, altura de Macchu Picchu. 
O grande problema de se fazer uma trilha no Peru é a altitude, simplesmente falta ar e parece que o coração vai escapar pelo peito. Para amenizar esse problema, o ideal é ficar alguns dias na altitude, sem fazer grandes esforços, só deixando o corpo se acostumar. Ficamos uma semana em Cusco, visitando os vales sagrados, de excursão, caminhando pela cidade, o que já é um grande exercício, uma vez que há muitos morros. 
Não é possível fazer o Caminho Inca sem uma agência e guias, regulamentados pelo governo do Peru. Para entrar, e ao longo do caminho, há postos de fiscalização para ver se todos estão com autorizações das agências. Em média, uma agência cobra 250 dólares por pessoa, o preço inclui alimentação (café da manhã, almoço e jantar) e acampamentos. Não estão incluídos bastões de caminhada, sacos de dormir, lanches e água (essa última, apenas nas refeições). Já que você terá que levar água, leve também pastilhas de cloro, pois a água na altitude tem bactérias que seu corpo não consegue combater.  Nunca, nunca tome água sem pastilhas nem mesmo o mate de limão que eles oferecem na trilha! Deixe a pastilha dissolver por 30 minutos antes de beber. Também é legal comprar uns comprimidos de Sorochi, que combate o Soroche (mal da altitude). 

O caminho
Não invente de levar muita coisa na mochila. Eu diria que, no máximo, 10 quilos. Camisetas para trocar, e uma roupa quente para usar nos dias frios. Fizemos o caminho em agosto, inverno, e uma das noites a temperatura chegou a quase -20ºC. Durante o dia, sente-se calor pois você vai caminhar o dia todo, 10 horas, em média. Mas de noite esfria de verdade. Um casaco impermeável, um fleece (aqueles blusões de lã térmicos), touca, camisetas de manga curta (uma por dia), meias confortáveis (de preferência anti bolhas), uma calça confortável e impermeabilizada (pode ser impermeabilizada com produtos em spray), uma bota de cano curto (para evitar torções) à prova d'água, desodorante, sabonete, protetor solar e repelente. É legal que você tenha uma capa para proteger a mochila da chuva. Levei comigo antinflamatórios (pois estava com problema na coluna), remédio para dor de cabeça e estômago. 
No verão, Machu Picchu é muito chuvoso, prefira fazer a trilha de maio até setembro. 
A trilha não é fácil. Não acredite em blogs que falam que o único da difícil é o segundo. O caminho todo é difícil e exaustivo. Mas é justamente por isso que é preciso se preparar um pouco antes de ir, e chegar lá com coragem para enfrentar a trilha e cumprir a sua meta. É importante que as botas já estejam amaciadas no seu pé. Um calo no meio da trilha pode ser o fim da viagem! 

1º dia- As excursões costumam buscar em Cusco por volta das 6 da manhã. As 8:30 começa a trilha, com a travessia da ponte sobre o rio Urubamba, há 2750 metros de altitude. No início é um passeio, você começa a se acostumar com a paisagem e com o ar rarefeito. Leve o seu bastão de caminhada, pois será muito útil, em breve. No final da trilha já não conseguia mais andar direito sem o bastão, ele se tornou parte de mim! Eu aconselho comprar um bastão daqueles de cabo de vassoura mesmo, os albergues costumam ter pra vender e custam baratinho. A empunhadura é de tecido peruano e serve como recordação. O bastão, tive que deixar, não me deixaram trazer no avião. À tarde é um pouco diferente, você começa a subida e a paisagem vai mudando. Não é muito puxado, mas como é o primeiro dia, você chega bem cansado no acampamento. Ainda no primeiro dia, você tem contato com algumas vilas, e pode ver a incrível cidade Inca de Llactapata, em forma de serpente (explicação sobre os três animais da cultura Inca, ver postagem sobre Cusco) . O acampamento deste primeiro dia fica em Huayllabamba, há 3000 metros. 
 

2º dia- tudo que você já eu sobre o segundo dia é verdade: é o dia mais difícil. Levantamos as 6 e começamos a subir imediatamente. A subida foi até as duas da tarde, há 4200 metros. A trilha alterna períodos de subidas em rampa e em escada, este dia tem, predominantemente, muitas, muitas, muitas escadas! Uma coisa interessante é que o degrau inca está fora da norma, ou seja, é preciso levantar o joelho acima da linha da perna, o que torna o esforço maior. Muitas pessoas desistem neste dia, e por isso eu gostaria de dar uma dica. Aliás, duas. A primeira é que, voltar ou continuar vai dar no mesmo. Não vai ter um helicóptero pra te resgatar nem um peruano que te leve nas costas. A volta é a pé, tudo que você já andou, vai se repetir. Então, já que é pra caminhar, ande pra frente. Segunda dica é: trace pequenas metas. Você está parado, com o coração saindo pela boca, pensando em cair duro no chão ou desistir. Olhe pra frente e veja um ponto fixo, há uns 8 ou 10 metros. Essa será sua meta, diga a você mesmo: vamos andar até ali e parar pra respirar. Faça isso quantas vezes for necessário. O caminho Inca ensina que é preciso seguir em frente, sempre. E mesmo que pareça um desafio intransponível, um passo de cada vez te faz conquistá-lo. Um passo de cada vez, lembre-se disso.
Bom, já que subimos até 4200 metros, agora temos que descer até 3600 metros, onde fica o acampamento, em Paqaymayu. Descer não é fácil, e é mais perigoso, principalmente com chuva! Foram 3 horas de descida em escadas INCAS. Ali o joelho trabalha! 

3º dia- o legal de iniciar o terceiro dia é abrir a barraca e ver os picos nevados ao fundo. Lí em vários blogs que o segundo dia era o mais difícil e que o restante dos dias eram um passeio. Não é verdade! Nesse dia você vai continuar subindo e descendo, principalmente no começo da manhã, onde se sobe 400 metros de uma só vez. São as paisagens mais bonitas e as melhores fotos são desse dia. Ao meio dia tem um pequeno acampamento com chuveiro, e a temperatura não é tão baixa quanto ao entardecer, aproveite para tomar um banho. Visita-se Sayacmrca e Winaymayna, cidades incas ao longo do trecho. No final do dia é possível avistar Águas Calientes, que fica ao pé de Machu Picchu. O acampamento de pernoite tem chuveiros (gelados!), a vista é muito bonita, com o rio Urubamba no pé do vale. Da nossa barraca até o precipício tinha apenas um metro e meio, mas há outros lugares que isso não ocorre. É importante ter atenção redobrada porque você anda em trilhas, na beira do precipício. São 200, 300 metros de queda. 
  

4º dia- no último dia acorda-se bem cedo: 03:00 da manhã. A ideia é chegar em Machu Picchu (Portal do Sol) e ver o sol entrando na cidade. São 3 horas de caminhada e o trecho é relativamente fácil, exceto pela escadaria MATA GRINGO, com mais de 50 degraus extremamente inclinada onde se sobe de quatro ("en cuatro patas"!). É indescritível a chegada, ver Machu Picchu ao longe, iluminado pela luz do sol que, aos poucos vai entrando na cidade, com Wynapicchu ao fundo.. merece uma foto, a melhor de todas! 

Depois da trilha, a cidade até perde um pouco do glamour... mas é um lugar único que você vai passar o dia visitando. No nosso caso, preferimos ir para o hotel em Águas Calientes descansar. Havíamos comprado outra entrada para o dia seguinte, assim pudemos visitar a cidade com calma, descansados e com roupas limpas! A agência presenteia os que terminam a trilha com camisetas e um certificado, basta apenas fazer um depoimento no site. 

Agência de turismo: a agência que escolhemos foi a NC Travel. O guia foi muito bom e a estrutura era boa, mas havia outras agências com estrutura melhor. 

Hotel em Águas Calientes: pra quem decidir ficar em Águas Calientes depois da trilha, indico o Hostel Ecopackers. Estrutura muito boa, silencioso e limpo.